CNUV :: #10 Nel blu dipinto di blu

por Jackie Mota 05.abr.2015

Dá o play na trilha para ler esse post. Ao final explico o porquê:

Era uma vez uma menina que vivia no interior do Brasil. Ela adorava ver TV. Era, ao lado dos livros, sua janela para o mundo além dos limites daquele município cortado por uma rodovia, mas que parecia que não a levaria a lugar nenhum. Naquela época, a Regina Cazé tinha um programa chamado Brasil Legal. Tinha esse nome, mas ela sempre mostrava outros cantos do mundo. E era por isso que a menina não perdia um programa!

O problema é que, naquela época, não existia internet. Se você perdesse uma informação que tinha ouvido na TV ou no rádio, bye bye. Seriam semanas perguntando a todo mundo se se lembravam do que tinha sido dito, se alguém tinha gravado e às vezes, se o caso fosse grave, era preciso ligar ou mandar uma carta para a emissora para descobrir. Era por isso que o multisystem vivia com dois botões apertados juntos: o rec e o pause. E o mesmo acontecia assim que a gente ligava a TV: colocava a fita VHS no vídeo e apertava o rec e o pause ao mesmo tempo. Assim, caso ouvíssemos algo que quiséssemos guardar, era só “desapertar” o pause bem rapidinho e voilá: já estava gravando. Se fosse uma música esse processo era permeado pela tensão de que o locutor soltasse a vinheta da rádio bem no meio. Ah, quantas músicas a meninas aprendeu a cantar com um “Rádio Tropiiiicalll” bem no meio?

Mas houve um dia em que a menina ficou tão encantada com o programa da Regina Cazé que esqueceu de pôr a fita pra gravar. E isso não foi um problema. Porque mesmo sem poder dar replay no VHS,  a menina nunca esqueceu aquele nome: Polignano a mare [Ok, que ela achou que fosse amare, ou al mare, mas ela não falava italiano, dá um desconto, né?]. Era esse o nome do lugar que a hipnotizou. Aquela paisagem de uma cidadezinha bem pequena, esculpida em pedra, em cima de um penhasco debruçado sobre o mar, com grutas por onde a água azulíssima entrava, a conquistou de vez. Polignano a mare: um dia eu vou lá, disse a menina que nunca ia a lugar nenhum.

E volta e meia a menina perguntava a alguém: já ouviu falar de Polignano a mare? Não, ninguém. Nos únicos materiais turísticos a que ela teve acesso – uns folhetos de 15 capitais européias em 10 dias que um grupo da escola trouxe após a viagem – nenhuma foto de lá. Tudo bem, ela guardou bem os outros locais mostrados no folheto e sonhou um dia ir lá também – mas não esqueceu o nome da cidadezinha italiana.

Não tão rápido quanto nas novelas, a menina entrou em uma nova fase. Foi para o cenário de muitas tardes de Helenas, embora sua personagem se parecesse mais com os do núcleo periférico. Nem dava para fingir que era caso de ser novela de outro autor, aquela mais, popular, digamos. Afinal, se o Rio era um céu nas novelas do primeiro, nas dessa autora o céu sempre aparecia para mostrar os vôos  constantes dos personagens que iam e vinham de lugares exóticos do outro lado do mundo num piscar de olhos. Quem dera, pensava a menina. Ela nunca tinha ido a um aeroporto.

Mas tudo bem, afinal sempre havia dias em que o ônibus não era via túnel, mas sim via Aterro! E era naquele curto (ou não, às vezes engarrafa) espaço em que a vista era a Enseada de Botafogo, que ela sentia o vento no rosto e quase ouvia ao fundo uma trilha Bossa Nova que a transportava para a novela helenística. E ela sonhava com um alguém. E sonhava com  muitos lugares.

enseada botafogo

Sonhos, tantos sonhos. Eu sei, you may say I’m a dreamer….but I’m not the only one, tá? Tava lá o menino que não bobeava para provar. Aqueles dois loucos sonhadores se encontraram e decidiram sonhar juntos. Foi no trabalho, claro, afinal esse era o cenário de quase todas as cenas do enredo da menina naquela época.

Daí, ela aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer e decidiu trabalhar (mais?)…e ele se formou no mesmo mês que ela passou no vestibular. Foi mais ou menos assim. Muito trabalho, com certeza,  alguma bebida, uma formatura, muito estudo, mais trabalho, mais estudo, mais trabalho. Mas naquela cia os dias já não se pareciam mais com novelas. Eles já tinham atingido o nível sessão da tarde de romantismo e “nunca pensei que isso fosse acontecer comigo um dia”. Eu avisei que ela não era a única sonhadora.

Houve até um casamento. Com o cenário mais lindo que o Rio tinha para servir de testemunha, houve um dia deles, só deles como protagonistas de um happy beginning. E na sequência, juntos, eles começaram a riscar a lista de locais guardados em seus corações. Locais tirados dos folhetos de excursão que só viam em mãos de outros quando crianças, das novelas, dos filmes, dos livros, das músicas, das conversas e da internet. Ah, agora tinham internet! Nessa fase eles até compartilhavam seus capítulos com quem quisesse, graças à internet.

E assim, houve a estréia no aeroporto, um local onde ir, pouco a pouco, se tornou um hábito. Mas nunca se tornou algo trivial. A menina nunca conseguiu não se maravilhar diante de cada nova viagem. Ela nunca conseguiu, a cada vez que parte pelo mundo, não lembrar daquele canto do mundo sem internet, sem aeroporto, com aquela estrada no meio. Ela nunca conseguiu evitar um sorriso ao lembrar da vilãzinha daquela fase de sua vida dizendo que ela não podia ter as mesmas coisas que ela porque era “só uma filha de paneleiro”. Ela sempre sorri ao se lembrar disso. E, silenciosamente, agradece à vilãzinha por tê-la feito despertar para essa verdade. A menina não podia ser como a vilãzinha. A menina podia ser muito mais. Ela podia ter muito além que coisas: o mundo.

E um dia, uma segunda-feira comum, à noite, a menina estava planejando a próxima ida ao aeroporto. Usava a internet para combinar datas e lugares inscritos no coração. Até que percebeu que sua rota passava por um local que ela já tinha visto muitas vezes no mapa. Checou várias vezes horários, preços, conferiu letra a letra os códigos dos aeroportos. Emocionada, pegou o telefone e ligou pro garoto que não bobeava e disse: amor, nós vamos para Polignano a mare!

CasamentoP.S. 1: Polignano a mare fica em Puglia, na Itália, na costa do Adriático. A cidade está a cerca de 35 minutos de carro de Bari, uma cidade portuária bastante conhecida. Bari é rota de muitos cruzeiros e tem ligação por ferry e também por vôos com a Grécia. A cidade é a terra natal de Domenico Modugno, o cantor de “Nel blu dipinto di blu“, ou como pode ser que você conheça essa música: Volare!

P.S. 2: A passagem para Bari, de onde poderemos pegar um trem ou carro para Polignano a mare, foi o primeiro vôo interno da nossa viagem que comprei. A toda hora entro no email para olhar a confirmação, só para ter certeza de que ela está mesmo lá.

P.S. 3 :Clique aqui para descobrir com seus olhos Polignano a mare

P.S. 4: Nunca consegui encontrar o programa da Regina Cazé de novo. Deve ter sido por volta de 1995. Será que alguém aí tem a fita?

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Fotos: todas minhas, exceto a das bolinhas de sabão; ela é do Carlos Leandro, tirada no nosso casamento no Rio

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Publicado por Jackie Mota

Uso minha formação em jornalismo e minha experiência organizando as viagens da minha própria família para escrever posts didáticos e detalhados para poupar o SEU tempo. Nos meus textos você encontra informações práticas apuradas com responsabilidade e organizadas de acordo com as necessidades do viajante. Referências histórias e análises sobre a política e impactos do turismo também estão presentes no meu trabalho para que você viaje bem informado, seguro e consciente - sou especialista em Relações Internacionais e Mestre em Estudos Estratégicos da Segurança Internacional.

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Comentários

  1. 23 jun 2015

    Amei esse post!!! lindo, lindo, lindo!!! Me lembrei de quando fui pra Cortona, também na Italia. Chorei muito realizando esse sonho. <3

  2. 07 abr 2015

    Jackie: esse lugar agora é meu sonho tbem. Obrigada por compartilhar <3

    • 08 abr 2015

      EEEE! nao é lindo Não tinha como esquecer. Em breve trarei as dicas de lá. beijo!

  3. 06 abr 2015

    Jackie.. que post lindo! E terminei de ler com lágrima nos olhos, porque sei exatamente como é sonhar assim… e olha, eu entendi há algum tempo o papel das vilãzinhas, elas servem pra dar aquele impulso extra pra gente conquistar mais e não se acomodar.
    Que vocês tenham uma viagem linda pra sua sonhada Polignano a mare, já cliquei no link e vi as fotos mara!!!!. E se é na Itália, já tem 100% de chance de ser uma delíciaaa 🙂

    • 07 abr 2015

      Eu sabia que vc ia entender, Clau. Da pra ver pelos seus posts sobre as suas conquistas! E acho que vc tem razão sobre as vilazinhas. Pensando bem, eh isso ai mesmo. Agradeçamos por elas! Rs grande beijo!

  4. danielle pio
    06 abr 2015

    Jackie.. q post emocionante! Torcendo p q o lugarzinho tao sonhado seja muuuuuiitoo especial! Alias.. ja é!! Beijao e aproveitem demais!!!

  5. 06 abr 2015

    Oinnn…
    Dreams can come true!
    Muito bom ver os amigos queridos do coração realizando seus sonhos…
    Vai para o mundo, MENINA!!
    bjk

  6. Camila
    05 abr 2015

    Nossa, você me emocionou! Que seja inesquecível!!!!

  7. 05 abr 2015

    chorando de emoção.
    tudo isso só comprova que Walt Disney estava, mais uma vez, certo: IF YOU CAN DREAM IT, YOU CAN DO IT!
    nunca podemos deixar de sonhar!

  8. 05 abr 2015

    Que lindo, adorei, emocionante!

  9. Jackie esse texto me deixou até arrepiada. A minha Polignano a mare, era New York City, desde muito pequena sonhava conhecê-la e por ser de um bairro simples de São Paulo e de uma família simples, perdi as contas de quantas pessoas desfizeram dos meus sonhos, mas eu realizei e espero conhecer muitos outros lugares da minha lista enorme!
    Parabéns por não ter desistido do seus sonhos,e pode ter certeza que os seus posts inspiram muita gente a fazer o mesmo! 🙂 Boa viagem, e depois nos conte tudo sobre Polignano a mare.

    • 05 abr 2015

      Obrigada, Gabriela! Fico muito feliz que nossos textos de alguma forma inspirem. grande beijo,

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